O objetivo deste artigo é mostrar o passo a passo da elaboração de um Diagrama de Pareto e foi baseado em minha experiência e apostilas elaboradas para treinamentos corporativos. Também conhecida como Regra 80/20 (poucos vitais e muitos triviais), Curva ABC.
Definição do Diagrama de Pareto
O diagrama de Pareto é um tipo especial de gráfico de barras verticais, utilizado para ressaltar a importância relativa de vários problemas ou situações, com o objetivo de identificar os problemas prioritários que deverão ser solucionados e de detectar a causa básica de um problema.
O diagrama de Pareto é baseado no Princípio de Pareto foi inicialmente estabelecido por J.M. Juran, que adaptou a teoria aos problemas da qualidade para modelar a distribuição de renda desenvolvida pelo sociólogo e economista italiano Vilfredo Pareto (1848-1923). Pareto mostrou, em 1897, que a distribuição de renda é muito desigual, com a maior parte riqueza pertencendo a muito poucas pessoas.
Juran foi o primeiro a notar que esta mesma ideia se aplicava aos problemas da qualidade – a distribuição dos problemas e de suas causas é desigual e portanto as melhorias mais significativas poderão ser obtidas se nossa atenção for concentrada, primeiramente, na direção dos poucos problemas vitais e logo a seguir na direção das poucas causas vitais destes problemas.
O Princípio de Pareto estabelece que os problemas relacionados à qualidade, como exemplificado nos tópicos abaixo:
- percentual de itens defeituosos,
- número de reclamações de clientes,
- modos de falhas de máquinas,
- perdas de produção,
- gastos com reparos de produtos dentro do prazo de garantia,
- ocorrências de acidentes de trabalho,
- atrasos na entrega de produtos,
- dentre outros
Os exemplos acima, traduzem sob a forma de perdas, podem ser classificados em duas categorias:
- os “poucos vitais” e
- os “muito triviais”
Os poucos vitais representam um pequeno número de problemas, mas que, no entanto, resultam em grandes perdas para a empresa.
Já os muito triviais são uma extensa lista de problemas, mas que apesar de seu grande número, convertem-se em perdas pouco significativas.
Em outras palavras, o princípio de Pareto estabelece que se forem identificados, por exemplo, cinquenta problemas relacionados à qualidade, a solução de apenas cinco ou seis destes problemas já poderá representar uma redução de 80 ou 90% das perdas que a empresa vem sofrendo devido à existência de todos os problemas existentes.
O Princípio de Pareto também estabelece que um problema pode ser atribuído a um pequeno número de causas. Logo, se forem identificadas as poucas causas vitais dos poucos problemas vitais enfrentados pela empresa, será possível eliminar quase todas as perdas por meio de um pequeno número de ações.
Ou seja, em um primeiro momento devemos concentrar nossa atenção sobre os pouco vitais, deixando de lado os muito triviais, para que os problemas possam ser resolvidos da forma mais eficiente possível.
O diagrama de Pareto é uma ferramenta simples e essencialmente prática que permite:
- analisar os dados relativos a um problema, e
- indicar o que deve ser feito primeiro para solucionar o problema.
Dito de outra forma, o diagrama de Pareto agrupa os dados coletados por uma folha de verificação e mostra as prioridades de ataque ao problema: as poucas ações que trazem o maior volume de melhorias.
É como se as partes de um problema (falhas, causas de erros, custo de trabalho etc.) fossem colocados num pódio, facilitando a visualização do 1º, 2ºe 3º lugares pela ordem do impacto que cada um exerce sobre o problema inteiro.
Esse ranking dos fatores de um problema pela importância relativa dos “primeiros colocados” é muito importante.
Cada problema tem tantos ângulos que a própria decisão de por onde começar a resolvê-lo já acaba se transformando num outro problema.
Essa objetividade de análise e priorização dos fatores de um problema faz do diagrama de Pareto uma das ferramentas preferidas de controle de qualidade do pessoal da linha de frente.
Finalidade do Diagrama de Pareto
Quando não dispara, ele próprio, o esforço de melhoria, o diagrama de Pareto é uma importante ferramenta gráfica de transição entre a coleta de dados e a identificação da causa fundamental do problema.
Nesse caso, o gráfico faz um eficiente trabalho de triagem: identifica os poucos fatores vitais, que têm preferência de ataque por serem em menor quantidade, mas com efeito maior na reversão do problema.
Essa hierarquização das falhas de um processo é de grande utilidade. A solução metodológica de um problema exige que os envolvidos na solução dediquem energia a esse trabalho. A solução do problema pode até não custar caro, mas não está pronta.
O diagrama de Pareto reduz o uso do tempo e do esforço das pessoas. “Ao dirigir a atenção de todos os problemas para apenas um ou dois de seus principais componentes, fica mais fácil otimizar o tempo de cada um, individualmente, e realmente fazer algum progresso na gestão do tempo das pessoas.”
A solução de alguns problemas, além disso, pode exigir a aplicação de recursos financeiros e humanos de uma organização. Como esses recursos nunca estão sobrando, a indicação das soluções mais eficientes (melhor resultado com o menor custo) é da maior conveniência.
Características Básicas do Diagrama de Pareto
O Diagrama de Pareto é um gráfico de barras que classifica os dados de um problema por ordem de importância (maior custo, maior número de erros, maior número de reclamações etc.) de modo a estabelecer prioridades de ação corretiva. Assemelha-se a uma escada que vai descaindo para a direita.
Os degraus mais altos, colocados à esquerda, são os componentes de maior destaque do problema, as causas de maior impacto na variação descontrolada de um processo.
A ordem e a altura em que as barras aparecem no diagrama de Pareto permitem visualizar os poucos fatores que mais contribuem para o problema. Ou seja, os poucos que se atacados em primeiro lugar e reduzidos substancialmente – resultam nas melhorias mais significativas do processo defeituoso.
Como construir um Diagrama de Pareto
A construção do diagrama de Pareto é relativamente simples. O mais importante do diagrama de Pareto acontece, na verdade, antes de sua montagem.
O segredo da eficiência do diagrama de Pareto na solução de problemas é o planejamento da coleta de dados.
Se coletar dados equivocados ou se eles não puderem ser estratificados (agrupados por categoria) posteriormente, o diagrama de Pareto resultante não vai ter força necessária para orientar as ações corretivas.
Planejamento da Coleta de Dados para elaboração do Diagrama de Pareto (2 passos)
Passo 1 – Classifique o problema a ser analisado pelo Diagrama de Pareto
Ao planejar a coleta de dados, defina a natureza dos dados que você precisa reunir. Classifique os itens (erros, fatores de qualidade, problemas etc.) que você vai coletar em categorias como:
- Qualidade: tipos de defeitos/erros/falhas/reclamações.
- Entrega: faltas de funcionários; atrasos.
- Segurança: ocorrência de acidentes, roubo.
- Custo: perdas financeiras com retrabalho e defeitos.
- Causas: estratificação do problema por local, turma, grau, série, turno, funcionário, máquina, método utilizado, mês, dia da semana etc.
Essa definição do tipo de dados que você vai coletar é muito importante na construção do diagrama de Pareto. Se seus dados não estiverem classificados, você simplesmente não conseguirá construir um diagrama de Pareto.
O planejamento da coleta é importantíssimo. Se você estiver pensando em fazer mais de um diagrama de Pareto com os dados coletados – por exemplo, para identificar a incidência de erros em redação por turma, série, professor etc. – essa classificação deve estar sendo usada na hora da coleta dos dados. Depois, pode ficar praticamente impossível separar os dados nessas categorias.
Passo 2 – Defina o período da coleta de dados para a elaboração do Diagrama de Pareto
Decida qual o período que precisa ser coberto pela coleta de dados. Defina esse período, por exemplo, em x dias; uma ou duas semanas; um; dois ou três meses; em certos casos, algumas poucas horas.
Ao definir o tempo a ser coberto, lembre-se que você precisará, posteriormente, de idêntico período, quando for construir um segundo diagrama de Pareto para compará-lo com o primeiro. A comparação do efeito “antes-depois” só poderá ser conseguida se todas as coletas relacionadas entre si se processarem num idêntico período.
Coleta de Dados do Diagrama de Pareto (1 passo)
Passo 3 – Colete os dados numa folha de verificação ou outro formulário equivalente.
Para ilustrar esta seção, basearemos a construção do diagrama de Pareto nos dados constantes da folha de verificação a seguir:
CASOS DE ENFERMARIA | ||||
Colégio Padre Miguel Período: Fev./Mar./Abr.95 (60 dias) Setor: Pré-Escolar Nº de casos = 76 Fonte: Enfermaria Elaborado por: Ronaldo | ||||
Motivos | Meses | Subtotal | ||
Fevereiro | Março | Abril | ||
Arranhões | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | 31 |
Cortes | | | | | | | | | | | | | 9 |
Torções | | | | | 2 | |
Mordidas | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | 22 |
Hematomas | | | | | | | | | | | | | | 11 |
Fraturas | | | 1 | ||
TOTAL | 38 | 22 | 16 | 76 |
Comentários:
O problema “Casos de Enfermaria”, cujos dados foram coletados nessa folha de verificação, foi classificado nos seguintes fatores ( = casos):
- Arranhões
- Cortes
- Torções
- Mordidas
- Hematomas
- Fraturas
O tempo de coleta foi de 60 dias letivos, correspondentes aos meses de fevereiro, março e abril de 76.
Preenchimento da Tabela para elaboração do Diagrama de Pareto (1 passo)
Passo 4 – Preencha uma tabela de dados para Diagrama de Pareto
Essa tabela deve conter os seguintes elementos (ver Tabela a seguir).
- Listagens dos itens em análise (tipo de acidentes, tipos de erros, falhas etc.), em ordem decrescente de frequência. Essa lista é retirada da folha de verificação.
- Número de ocorrência de cada item. Essas quantidades são transcritas da folha de verificação.
- Total acumulado (cada item somado cumulativamente ao seguinte).
- Percentual do total geral (frequência percentual de cada item isoladamente).
- Percentual acumulado (cada percentual somado cumulativamente ao seguinte).
- Total da frequência dos itens (números absolutos e percentuais).
Tipo de Acidente | Nº Acidentes | Total Acumulado | Percentual do Total Geral | Percentual Acumulado |
Arranhões | 31 | 31 | 40.8 | 40.8 |
Mordidas | 22 | 53 | 28.9 | 69.7 |
Hematomas | 11 | 64 | 14.5 | 84.2 |
Cortes | 9 | 73 | 11.8 | 96.0 |
Outros | 3 | 76 | 3.9 | 99.9 |
Total da frequência dos itens | 76 | – | 99.9 | – |
Tabela de Dados para Diagrama de Pareto: Casos de Enfermaria – Pré-Escolar. (Fev./Mar./Abr.95).
Montagem do Gráfico (6 passos)
Passo 5 – Trace um eixo horizontal e dois verticais
- Utilize de preferência papel milimetrado para desenhar o gráfico.
- Os dois eixos verticais devem ter o mesmo comprimento.
- Preveja espaço no eixo horizontal para acomodar cada um dos itens listados na tabela de dados.
- Preveja espaço no eixo vertical esquerdo para usar uma escala de até o total de dados (número de erros, defeitos.) constantes na tabela de dados.
Passo 6 – Marque os dois eixos verticais no Diagrama de Pareto
- Eixo esquerdo: uma escala de 0 até o total de dados (número de erros, defeitos etc.) coletados.
- Identifique o eixo: “Número de erros”; “Número de defeitos” etc.
- Eixo direito: uma escala de 0 a 100%.
- Identifique o eixo como “Distribuição Percentual”.
- Não é preciso escrever todos os números no eixo esquerdo. Alterne os quadrados do papel milimetrado e vá escrevendo os valores 2, 4, 6, 8 (ou 20, 40, 60, 80). Se preferir, pode alternar os quadrados com intervalos maiores: 5, 10, 15 (ou 50, 100, 150).
- O eixo direito pode ser marcado em grandes intervalos: 0%, 25%, 50%, 75%, 100%.
Passo 7 – Marque o eixo horizontal em intervalos iguais, um para cada item, e identifique-os no Diagrama de Pareto
Escreva os itens na ordem em que aparece na tabela de dados.
Se o espaço abaixo do eixo não for suficiente para identificar, por extenso, cada item, escreva apenas uma letra e faça uma legenda explicando o significado das letras.
A categoria “Outros”, independentemente de sua frequência, ocupa sempre o último lugar à direita.
Passo 8 – Desenhe as barras do Diagrama de Pareto
Comece à esquerda, com o item mais frequente.
Essa primeira barra deve estar apoiada no eixo vertical esquerdo. A última vai se encostar no eixo vertical direito. As demais são igualmente justapostas.
Determine a altura das barras pelo valor expresso no eixo vertical esquerdo. A altura de cada barra corresponde ao número de vezes que cada item foi registrado.
Mantenha simétricas as larguras das barras, qualquer que seja o valor representado.
A barra de “Outros” pode ser mais alta do que alguma outra, já que agrupa vários itens. Cada item individual englobado em “Outros”, no entanto, não pode ter frequência maior do que qualquer outro.
Se a barra de “Outros” se mostrar excessivamente alta, é preferível reagrupar os itens ou checar a adequação da classificação dos dados.
Passo 9 – Trace uma linha indicando o total acumulado dos valores (Curva do Diagrama de Pareto)
- Marque os valores acumulados, em números absolutos (eixo esquerdo) ou percentuais (eixo direito).
- Essa marca deve ser feita acima da extremidade direita da barra correspondente a cada item.
- Ligue esses pontos por segmentos de reta.
- A linha do primeiro item pode começar de 0, ou na altura do canto direito superior da primeira barra.
- Registre outras informações importantes sobre gráfico
Passo 10 – Informações complementares
- Título do gráfico
- Qualidade de unidades investigadas (N)
- Período de coleta
- Local de coleta
- Outras (conforme o caso): método de coleta, indicação de se antes ou depois de melhorias, responsável pela coleta dos dados, fontes etc.
Aprofundamento:
Consulte a tese de mestrado de Luís Felipe Salomão em sua excelente tese de mestrado “A QUALIDADE NOS ESTÁGIOS EAD CORPORATIVOS: ESTUDO DECASO NO 3º CENTRO DE TELEMÁTICA DE ÁREA” disponível no website https://www.cps.sp.gov.br/pos-graduacao/wp-content/uploads/sites/4/2018/11/luis-felipe-salomao.pdf
Aproveite para conhecer também as 10 principais ferramentas da Gestão da Qualidade!
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